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segunda-feira, agosto 11, 2008


Ao Dia dos Pais
Um pai sem filhos

Bernardo nunca foi de discutir a respeito de alguns caminhos da vida, da sua vida, caminhos que por vezes o empurravam para coisas que jamais pensaria para sua vida, era quase como uma nau ao sabor dos ventos, apenas para ilustrar Bernardo não era um homem acima do seu meio, é simples trabalhador como eu e você, alguém confiável era verdade, mas sua existência sempre fora pautada por faltas, faltas que as datas comemorativas sempre faziam doer um pouco mais, é estranho pensar isso, mas as vezes penso e vejo Bernardo, por vezes as pessoas buscam justificativas intelectivas para não sentires algumas dores, bem a inteligência sempre supre algumas coisas, mas quando se sente um arranhão na pele a coisa mais inteligente é gritar, sem enfeites ou maquiagem pura manifestação da verdade,não maquie a sua verdade.
Bernardo não gritava, alias não se alterava nunca, mas sentia um Dick em seu coração, um dia tal Dick se romperia? Não pensava, mas não desejo devanear muito sobre isso Bernardo certamente não gostaria, ele era muito calado mas quando estas data chegavam ele queria tanto comemorá-las, mas por vezes não tinha como. Aquele dia era dia dos pais, sua memória viajou longe na busca de seu pai ainda vivo, é, eles discutiam demais, falavam demais e perdiam precioso tempo demais,e diga-se de passagem, o tempo é uma armadilha quanto mais você pensa que ele existe, menos ele está nas suas mãos por isso dou um conselho amigo,não desperdice o tempo, saborei-o, porque, como as estrelas do firmamento vão embora ao amanhecer tudo a nossa volta também bem vai...vai,não deixe para sentir a tua felicidade amanhã, o amanhã não existe o que você tem de mais sólido e em suas mãos é o agora, trate-o bem com sabedoria como um plantador desapegado da sua obra, apenas faça frutificar, dar sementes e neste doar quase tudo torna-se possível.
Bernardo lembrava-se do quanto ele seu pai era ríspido, rígido demais, e isso lhe causava revolta, sua dureza era justa, mas naquele tempo não era possível de entender, como não é possível entender tantas coisas e emoções contraditórias que por vezes nos aproximam, Bernardo admitia, ele chegou a ter ódio do pai, dizendo coisas tão duras, coisas que ecoavam em sua consciência agora, como a buscar o pior de sua culpa e neste auto-sacrifício a tentativa de resgate, um resgate do passado,das emoções e na tentativa de ser perdoado, sem dramas, queria tanto pedir desculpas...mas era tarde demais..muito tarde.
Nunca mais foi o mesmo, então como é normal e esperado queria ter seus filhos a todo preço, crianças se tornaram para ele essenciais para felicidade, mas era preciso seguir a ordem das coisas, não poderia ser qualquer mulher, qualquer “tipa” não,queria filhos especiais, e mais uma vez o tempo mostrou para ele que tudo que é simples, pode complicar-se, se os nossos móveis não estiverem bem nítidos em nossa alma.
Teve inúmeras mulheres, de todos os tipos, jeitos e possibilidades infindas mas não, nada acontecia. Não sou o pai das fórmulas mágicas de sucesso, meu não nome não é “Walter Supermercado”,mas uma coisa eu digo, quanto menos nitidez nós temos para conosco mesmo, as portas de cagadas imensas se escancaram a nossa frente, guarde esta máxima filosófica!
Bernardo então ficou como se entender o porque disso, queria apenas filhos, afinal todos tinham filhos era fácil fazê-los,pessoas os tinham até sem querer, por uma “escapadinha”, os filhos da escapadinha, qual o mistério disso?Mais uma vez o tempo teria que fazer seu trabalho, de tanto tentar Bernardo desistiu, acabou que nada deu certo,nem mulheres, nem filhos nem nada, sim, existem coisas que estão além da vontade.
Hoje era o dia dos pais, Bernardo estava sentado em sua cadeira apreciando uma besteira qualquer na televisão como a desviar seu pensamento daquele dia,passou o dia assim,as lagrimas vieram novamente, e como conversando consigo mesmo começou a falar:Pai, meu pai,ampara a meu pai, livra-me deste jugo que asfixia minha alma e torna difícil meu viver, perdoe-me ,por favor perdoe-me de tudo que disse e principalmente do que eu não disse, minhas mãos não podem mais te tocar,e nem no teu abraço posso me acalenta,r mas saiba onde quer que estejas a falta que tu me fazes, mesmo que seja por tua dureza de viver, e me disciplinar,obrigado,obrigado.Calou-se.
Não havia nada místico acontecendo, era um diálogo de uma alma em dor viva, houve um silencio longo, depois disso tudo, e de certa forma tudo havia ficando em paz. Quando Bernardo reabriu os olhos, a lua que estava por detrás de uma nuvem saiu o iluminando em sua prateada luz, Bernardo sentiu paz, apenas isso, sentiu paz.

De todos os filhos que não tive.
Das poucas crianças que minhas mãos fizeram dormir, de alguns sonhos que embalei,
De algumas poucos choros que tive a honra de ajudar a acalmar, de fantasias feitas de estranhos sons que emiti para fazer abrir breve sorriso, riso puro e gostoso de ouvir.
Neste pequenino mundo fui de tudo um pouco, pouco urso, pouco cachorro,
Um pouco atrapalhado, um pouco de tudo.

Paz e luz em teu caminho.
Luís Fabiano.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu conheço a história de uma menina que tinha dois pais: um biológico e outro do coração. Pelo menos era assim que ela chamava...o pai do coração era o que convivia diariamente, eles mantinham uma certa distância, talvez por saberem que a relação era breve, porém existia intensidade. A menina gostava de dormir no peito dele e dava risada das palhaçadas que ele eventualmente fazia. Ela amou cada momento vivido, mas sempre em silêncio, um amor mudo. Tanto que até hoje, quando encontro com ela, ela relata os pequenos detalhes com grande exatidão e carinho. Essa é a história de um pai do coração que foi muito mais pai do que o biológico...essa é só mais uma história de vida e de morte...como todas...
paz em ti
Sheela

Fabiano disse...

Grato por me brindar com tal belo exemplo,sabe, é por estas pequenas coisas que tenho a impressão que existe esperança em algum lugar...