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sexta-feira, agosto 30, 2013

trecho solto



 Trecho Solto...   

"Portanto devo refazer o conto.
 Agora esta muito mais forte. Sem uma única mentira Só mudo os nomes. Esse é o meu oficio: revolvedor de merda. Ninguém gosta disso. Não tapam o nariz quando passa o caminhão do lixo? Não escondem as latas de lixo nos fundos das casas? Não ignoram os varredores de rua, os coveiros, os limpadores de fossas? 

Não sentem nojo quando ouvem a palavra carniça? Por isso tampouco sorriem para mim, e olham para o outro lado quando me vêem. Sou um revolvedor de merda. E não que esteja procurando alguma coisa na merda. Geralmente não encontro nada. Não posso dizer-lhes: ”Oh, olhem só, encontrei um brilhante no meio da merda, ou encontrei uma boa ideia no meio da merda, ou encontrei uma coisa bonita”. Não é assim.

Não procuro nada e não encontro nada. Portanto, não posso demonstrar que sou um tipo pragmático e socialmente útil. Só faço como as crianças, que cagam e depois brincam com a própria merda, cheiram, comem e se divertem até que chega mamãe, tira ele da merda, dá banho, perfuma e ralha com eles, dizendo que não podem fazer aquilo.

Só isso. Não me interessa o decorativo, nem o bonito, nem o doce, nem o delicioso. Por isso sempre duvidei de uma escultura que foi minha mulher durante algum tempo. Havia em sua escultura um excesso de paz para que pudesse ser boa. A arte só serve para alguma coisa se é irreverente , atormentada, cheia de pesadelos e desespero. So uma arte irritada, indecente, violenta, grosseira, pode nos mostrar a outra face do mundo, a que nunca vemos ou nunca queremos ver, para evitar incômodos a nossa consciência.
Pronto .Nada de paz e tranquilidade. Quem conseguiu o repouso no equilíbrio esta perto demais de Deus para ser artista  ".

Extraído de:

Trilogia Suja em Havana – Pedro Juan Gutiérrez



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