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sexta-feira, agosto 24, 2012




Sangue, educação e uma chupada


Poucas coisas são tão românticas, quanto observar uma mulher trocar o absorvente interno. A cena era linda. O copo de whisky estava sobre a pia do banheiro, ela de pernas abertas no vaso, puxando aquele cordão fininho e sangrento, sorrindo com uma felicidade angelical.

Eu estava na porta. Já isso várias vezes, não me choco. Mas ao que parecia, a operação de remoção estava complicada, por algum motivo o cheiro não era dos melhores. Cheiro de sangue é bom (eu gosto), faz pensar em coisas selvagens, canibalismo talvez. Mas um sangue velho... Meio podre tem um cheiro pesado e ferroso.

Rose havia esquecido que estava menstruada e também do absorvente dentro dela... Porra como se esquece disso? Mas ela é meio assim com tudo. Meio desligada. Gosto dela porque é original.

Nunca fica tentando disfarçar nada, nunca fica enrolando ou mentindo, não se preocupa com coisas que não pode controlar. Creio que todos têm este problema. Temos uma cisma com um suposto controle de tudo. Mas ela passa indiferente a muitas coisas, não sei exatamente se é sua filosofia de vida, ou é meio maluca mesmo, quem sabe meio limítrofe ou tonta?

-Porra Rose... Esse troço tá aí há quanto tempo dentro de ti ?
-Bah...bah... Acho que coloquei no meio dia... Esqueci total... Muito trabalho... Sabe... (ria)

Ela foi tirando aquilo, tava meio preto. E acho que era um OB super-ultra-grande... Aquilo dava para tampar uma cratera lunar. Que xoxotão! Quando finalmente saiu tudo, dava pra ouvir alguma coisa caindo na agua, umas placas de sangue talvez. Gostei. Ela se sentia aliviada.

Não sei se foi o cheiro que impregnou o banheiro, a cara de satisfação dela... sei lá... O meu pau subiu. Tomei um gole de whisky, abri o zíper diante dela sentada no vaso. Fez aquele risinho de puta, que toda mulher faz diante um membro duro de seu macho. Ela tirou minha ferramenta pra fora, deu uma mamada carinhosa, como se tocasse uma sonata de Beethoven, uma Ave 
Maria. Relaxei encostado na parede ela no vaso. Naquele instante não existia mais nada no mundo, aquele cheiro, aquela boca o whisky e as estrelas.

Mas o mundo não é perfeito. Alguém deu porradas na porta... Um tranca-foda destes da vida. Ela queria seguir chupando... Mas algo estava errado.
-Não sei Rô, talvez melhor abrir...
-É? Tem certeza?
-Tenho certeza de porra nenhuma... Mas não sei... Tem algo estranho...

A pessoa parecia desesperada na porta, batia continuamente num ritmo frenético. Uma metralhadora de angustia, tentando acertar o alvo... O inimigo, a fera prestes a atacar, a fuga de merda, adrenalina saltando pelo rabo.

Guardei o pau e fui até a porta. Quando abro uma mulher seminua cai dentro do vão da porta, em lagrimas desesperadas...
-Aí... Por favor, moço, me acolhe... Moço... Por favor, não me põe pra rua... Me ajuda...
Tive aquele momento em que calculamos se devemos ajudar ou não... Lá do banheiro Rose gritava: quem é Fabiano? Que houve?Diz...
-Tudo bem entra aí... Vamos conversar...

Ela tentava esconder os seios com as mãos, roupa rasgada... Eram tetas desesperadas muito lindas, brancas como papel com bicos rosados como um por do sol de deslumbre.

Então entramos, sentamos na sala. Rose veio, quando viu a vizinha ali chorando, sentou-se com ela e abraçou, o que se seguiu foi curioso:
-Madalena... O que foi? O André descobriu né?
-É... Ele já vinha desconfiando, ele quer me matar, diz que sou a cria do capeta... Que eu trouxe o inferno pra dentro da casa dele.
-Não foi por falta de aviso... Eu te disse... Quando existe amor, as coisas precisam ser resolvidas rapidamente... Se não tudo vira problema...

Madalena me olhou. Olhar repleto de algo que não decifrei, era uma rasura de culpa flamejante, com um visgo de cuspe estelar, medo que aperta o cu e estraçalha o caralho de Deus.

Então Rose me disse:
-A Madalena esta apaixonada por uma amiga nossa, a Simone... Elas são lindas juntas. Mas o André é um tipo violento, e os filhos dela estão com ele... Ele diz que ela só sai daquela casa morta... Diz ele: casamento é pra sempre.
-Entendo, homem de princípios... Violentos... Mas princípios... É uma merda. Tudo isso porque ela se apaixonou por outra?
Madalena me olha:
-Ele jamais entenderá, eu mesma não entendo, depois de quarenta e cinco anos... Me apaixonei por uma mulher... tu sabes que é isso? Minha cabeça da voltas.
-Nem sempre existem explicações para algumas coisas... Uma coisa, o coração não erra, amor é amor aqui ou na puta que pariu... O André que se foda.

Estávamos todos calmos. Então alguém bate a porta. Uma batida quase delicada. Rose levou Madalena para o quarto. Eu fui abrir a porta. Esperava o pior... Tenho isso comigo, é melhor sempre pensar que você vai se fuder... 

Depois o que vem de bom é lucro. Estava pronto pra tomar uma facada, uma porrada, um tiro? Abrir uma porta, é como bater um pênalti.
-Pois não...
-Por favor, senhor, a senhora Madalena esta aí dentro?
-Não, creio que não.
-O senhor pode estar escondendo uma ordinária, canalha... Que não vale o come...
-Sei, mas então creio que não é caso. E outra, quem é o senhor?

Toda aquela respeitabilidade de tratamento, era tão asséptica que nem parecíamos seres humanos. Uma limpeza completa de vida e caráter assim, não é uma característica do ser humano. Até existem algumas pessoas que são assim, mas elas não são normais, tem alguma psicose qualquer, são doentes.

-Sou o marido da mesma... Ela não vale nada, mas eu a quero de volta! Bem, se ela aparecer por aí, o senhor, por favor, a mande pra casa, as crianças estão precisando dela...
-Tudo bem, farei isso. Boa noite senhor.

Uma coisa que aprendi, me fudendo muito por aí: Nunca brigue com alguém a noite, faça isso sempre durante o dia. A noite demônios sopram tudo para o pior...  Não sei como ela iria resolver o problema, o cara não era dos grandes, era magro e fraco, um soco no meio do peito, ele fica com falta de ar... Já era o homem. É preciso saber improvisar. Tinha pensado em acerta-lo. Mas aquela educação toda, eu teria de pedir licença pra dar um soco nele...

Fui até o quarto, Madalena ainda estava chorando. Pensava nos filhos, em Simone e no medo daquele homem. Era a presa acuada na caverna, a fera a espreita com aquela educação psicopatológica... A raiva contida em brutais razões de um amor repleto de passionalidade. Tudo que se pode fazer, é ganhar um tempo. O tempo é uma serpente que se retorce e mais cedo ou mais tarde, ele nos expõe, nos ataca e fere ou premia.

Aquela noite Madalena ficaria sem os filhos e com um aperto no peito. Rose e eu não foderiamos, a noite seria longa.
Éramos os três porquinhos diante de um matadouro, aquele cheiro de sangue ainda persistia no ar, vinha do banheiro, mas creio que este seria o único sangue da noite.
Esperávamos amanhecer... O amanha sempre é melhor.

Luís Fabiano.


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