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segunda-feira, novembro 28, 2011

Trecho solto...


“ Fiquei pensando como eram difíceis as separações. Mas era só mesmo rompendo com uma mulher que podia encontrar outra. Eu precisava degustar as mulheres pra conhece-las bem, pra entrar no amago dela. Eu conseguia inventar homens na minha cabeça, pois era um deles; mas, as mulheres , eram quase impossível escrever sobre elas sem as conhecer de fato. Assim, eu as pesquisava intensamente e sempre descobria seres humanos lá dentro. Deixava a escrita de lado. A escrita representava muito menos que o episódio vivido em si, até que terminasse. A escrita era apenas o resíduo. Homem nenhum precisava de mulher para se sentir real de verdade, mas era bem legal conhecer algumas. Daí, quando o caso ia mal, o sujeito conhecia pra valer a solidão e a loucura, e assim ficava sabendo o que o esperava quando seu próprio fim chegasse...

Eu era sensível a muitas coisas: um sapato de mulher debaixo da cama; o jeito de elas dizerem “vou fazer xixi”; prendedores de cabelo ;andar com elas pelos bulevares a uma e meia da tarde, só os dois, juntinhos; as longas noites bebendo, fumando, conversando; as brigas; pensar em suicídio; comer juntos e se sentir bem; as brincadeiras, as gargalhadas sem motivo; sentir milagres no ar, estar junto com elas num carro estacionado ;lembrar amores passados as três da manha , se avisado de que você ronca; ouvi-la roncando, mães, filhas, filhos, gatos, cachorro, as vezes a morte, as vezes divorcio , mas sempre tocando pra frente, sempre chegando ao ponto final; ler um jornal sozinho na lanchonete , nauseado pelo de ela ter se casado com um dentista de QI 95;pistas de corrida, parques, piqueniques nos parques, até prisões; os amigos chatos dela, os seus amigos chatos; seus porres, a dança dela; seus flertes, os flertes dela; as pílulas dela, as suas trepadas fora do penico, ela fazendo o mesmo; dormir juntos...”


Extraído de: Bukowski - Mulheres
Editora L&PM



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