Pesquisar este blog

sexta-feira, outubro 23, 2009



Amor incurável Amor.

Você já teve a oportunidade de olhar um aquário com peixinhos coloridos?
Aquele nadar entediado de um lado para outro, recebendo alguma comida eventualmente, e olhando o mundo externo como se um aquário maior ainda onde as pessoas ficam admiradas observando o fascinante mundo colorido e artificial do aquário.
Este era o prazer de Paulo, quando chegava do escritório ia para seus peixinhos dourados ,era um vicio irritante,falava como uma voz de criança aos peixinhos, dizia ele:
-Esses peixinhos me relaxam tanto, eles ficam para cá e para lá...
Vamos e viemos, aquela admiração por peixes as vezes era demais, ou talvez não, existiam outros problemas que lhe literalmente transtornavam-lhe a cabeça,um era a sua mulher, Flor de lis de seu jardim, tinha um amor tão grande por ela que chegava a doer,,uma espécie de patologia amorosa, o grande problema de amar-se assim irrefreavelmente, é justamente dar plenos “poderes” ao seu objeto de amor, para fazer gato e sapato da sua vida,é o preço pago para quem não sabe amar, mas Paulo não ligava, era humilde comandado pela esposa, que embora bonita mais parecia um general de constante mau humor.
Flor era dessas mulheres que sabem o quer, e não se prendem muito aos padrões de comportamento, evidentemente a passividade de Paulo abria brechas, e nesta força, nesta volúpia começou a trair o apático(aquático) Paulo, não tinha drama de consciência, achava inclusive justo, mas quando a noite caia e Paulo vinha procurar sua mulher na cama,ela estava sempre cansada, o sexo tirara férias naquela casa, e mesmo Paulo um tonto por natureza achava estranho.
Tinham o que podemos chamar de um casamento platônico, feito de palavras, alguns sentimentos e nenhum sexo.
Um dia destes que literalmente a bobeira da sorte, Paulo em uma brincadeira besta que ele tirou não se sabe de onde, diz rindo:
-Flor, faz tanto tempo que não transamos,que nem sei onde “ela” fica mais, (riu..)da até pra desconfiar que tem algum leiteiro aí...(riu com inocência da própria piada...).
Flor que estava de costas lavando a louça escutava o marido com desinteresse pleno, porem a frase final lhe despertou um ímpeto de honestidade invencível e inesperada, largou o prato sujo virou-se para Paulo e disse:
-É claro que tem leiteiro, padeiro, açougueiro, carpinteiro, borracheiro, estivador, mecânico, pintor, medico, farmacêutico, operário e até um cobrador de ônibus,(completou) Paulo eu te amo, porem eu te traio com todos eles.
Paulo que olhava os peixes, achou que era um brincadeira também, mas ela estava parada olhando firme para ele, talvez na ânsia que este homem reagisse, mas nada.
Seguiu dizendo friamente, traia-o sempre,e com muito orgulho, pois era mulher honesta, trabalhadeira e tinha todos os seus deveres em dia.
Paulo olha para esposa e diz:
-Me diz, tu beijas a boca deles todos, como beijas a minha?
Ela responde: sim é claro.
Paulo revolta-se, e diz:
-Beijo não, beijo eu não tolero, aí foste longe demais, (conteve-se ante o olhar irado da mulher), porque beijo Flor, beijo tem alma, tem sentimento, o corpo não, o corpo tu lavas com água e ele esta livre de todo pecado!
Flor que esperava ser esfaqueada, que o marido a cobrisse de porradas, viu só aquele homem reclamar dos beijos que ela dava em outro?Indiferente.De consciência limpa, seguiu lavando os pratos sujos, enquanto Paulo ali ficou olhando o movimento do peixinho dourado...

Existem flores que não se cheiram.
Luis Fabiano.

Nenhum comentário: